O vinho nos Açores...
As primeiras informações relativas ao arquipélago dos Açores remontam às viagens marítimas empreendidas pelos europeus no século XII, nomeadamente a partir de Portugal sob os reinados de D. Diniz (1279-1325) e do seu sucessor, D. Afonso IV (1325-1357). No período de Pedro de Portugal, 1.º Duque de Coimbra (1392-1449), regente na menoridade de Afonso V de Portugal, que se verifica o grande arranque do povoamento do arquipélago, conforme determinação expressa pela carta régia de 2 de julho de 1439, a Gonçalo Velho Cabral.
Garantidamente que na “algibeira” de algum dos primeiros povoadores foi trazida a vinha. Do modo como o vinho sempre esteve enraizado na cultura Portuguesa seria inconcebível viver sem vinho. O vinho era um bem de primeiríssima necessidade. A cultura da vinha ainda hoje mantém a sua relevância sendo uma das mais importantes do arquipélago.
A Ilha mais representativa a nível da vitivinicultura nos Açores é a ilha do Pico. O vinho verdelho, a partir da casta do mesmo nome, ganhou reputação mundial ao longo dos séculos. A partir do século XIX são introduzidas novas castas que dão origem a vinhos de mesa tintos e brancos. O modo de cultivo, contra a aspereza dos terrenos vulcânicos, quase sem terra vegetal, é feito em currais. Durante o século XVIII e até ao primeiro quartel do século XIX viveram-se, no Pico, períodos áureos da sua atividade económica, chegando-se a produzir mais de 50 mil pipas de verdelho, sendo exportado para a Rússia, para o Brasil, para a Inglaterra e outros países, como também para o continente, fornecendo barcos e armadas que aqui faziam escala. Como prova da sua importância local e mundial é o facto da UNESCO, em Julho de 2004, ter considerado a Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (criada em 1996), como Património Mundial da Humanidade. Currais, maroiços (amontoados de pedra em forma de pirâmide), vinhas e adegas com seus equipamentos são elementos emblemáticos da vinha e do vinho. Nos Açores existem, nas ilhas Terceira, Graciosa e Pico, três regiões demarcadas para a produção de vinho, que comercializam cerca de duas dezenas de marcas de vinhos de mesa, licoroso e regional oficialmente reconhecidas.
Relevância Cultural
Atendendo à importância que a cultura do vinho nos Açores teve, e continua a ter, o Governo Regional dos Açores criou, enquadrado na categoria de Museu Regional, o Museu do Vinho, na Vila da Madalena, ilha do Pico, sedeado na Casa Conventual dos Carmelitas, onde estão em exposição os aspetos culturais mais relevantes relacionados com a cultura do vinho nesta ilha. Se o vinho do Pico foi o dos Czares, o dos Biscoitos, no séc. XVI, foi o vinho das Caravelas da rota das Índias e das Especiarias. Entre os produtos essenciais ao abastecimento das armadas figurava o vinho "Verdelho". Nessa época, e ainda hoje, a maior mancha de biscoito na ilha Terceira, fica na freguesia, denominada de "Paroquial de S. Pedro do Porto da Cruz" e, também de Sr. S. Pedro do Porto da Cruz, onde morava Pero Enes do Canto, que mais tarde é designado Provedor das Armadas. Em 1853, com o aparecimento do "burril", Uncinula nector(Svhw) a produção de vinho verdelho na ilha Terceira e nas restantes ilhas começou a decrescer bruscamente, não chegando para o consumo local. Os viticultores nada puderam fazer para impedir esta doença criptogâmica. Em 1870, uma nova praga, pelo afídio Phylloxera vastatrix atacou as vinhas, destruindo-as de forma drástica. Graças ao espírito de iniciativa, Francisco Maria Brum, em 1890, fundou a primeira Adega Regional do seu tempo. Os resultados dos testes iniciais foram satisfatórios e a produção galopante. Em 1901, a produção traduziu-se em três potes de vinho de verdelho e no ano seguinte numa pipa. Em 1903, foram 6 pipas e meia; no ano seguinte, 11 pipas. Nos Biscoitos, ilha Terceira, o vinho de qualidade é o de Verdelho que pode ser de mesa, regional ou licoroso (IPR). Actualmente, a nível da Região Autónoma dos Açores, o vinho Verdelho dos Biscoitos licoroso tem um lugar privilegiado, a tal ponto que muitas recepções oficiais incluem um "Biscoitos de Honra". Também tem tido assento nalguns acontecimentos solenes a nível Nacional. No Palácio de Sant'Ana, no Jantar oferecido aos Reis de Espanha brindaram-no com o Vinho de Verdelho Licoroso Seco Chico Maria da Casa Agrícola Brum. No Palácio de Queluz aquando do jantar de gala que antecedeu o casamento do Duques de Bragança, o vinho licoroso da Casa Agrícola Brum esteve também presente. Em 1993 começam a aparecer vinhos de mesa com qualidade. O Dec.-lei de 25 de Janeiro de 1994 cria as Zonas Vitivinícolas, dos Biscoitos, da Graciosa e do Pico. Estas zonas permitem o fomento e a protecção das castas tradicionais mais importantes, de modo a incrementar a genuinidade e a qualidade dos vinhos brancos. Segundo esse decreto a região dos Biscoitos foi demarcada para a produção de vinho licoroso de qualidade produzido em região determinada (VLQPRD) assim como a do Pico. A da Graciosa para a produção de VQPRD. As castas recomendadas para VLQPRD dos Biscoitos são Verdelho, Arinto e Terrantés. Como castas autorizadas, Boal, Malvasia, Sercial, Fernão Pires, Generosa e Galego-Dourado. A categoria de Vinho Regional dos Açores foi criada em 2005. Outro acontecimento muito significativo para o vinho dos Biscoitos teve lugar em 1990, aquando do centenário da Casa Agrícola Brum, com a criação do Museu do Vinho, que tem desempenhado um papel muito significativo na divulgação da História Vitivinícola Regional e Enoturismo. Em, 1993, foi fundada a Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, com sede no Museu do Vinho. Esta tem como lema a defesa, promoção, valorização e divulgação do vinho verdelho dos Biscoitos e do vinho de qualidade dos Açores. Em Novembro de 1996 foram certificados IPR o VLQPRD da Casa Agrícola Brum, com a marca Brum e o VLQPRD da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, com a marca Lajido. Em Junho desse ano havia também sido certificado o primeiro VQPRD dos Açores, com a marca Pedras Brancas, da Adega Cooperativa da Graciosa. Esta ilha recebeu gado, por ordem do infante D. Henrique e, em meados do século XV, já tinha colonizadores, tendo sido Vasco Gil Sodré, natural de Montemor-o-Velho, acompanhado pela família e criados, o pioneiro e desbravador da Ilha. Dedicando-se desde o início à agricultura e ao plantio da vinha, a Graciosa exporta já no século XVI, trigo, cevada, vinho e aguardente. O vinho foi, ao longo de muitos anos, elemento de reconhecida riqueza económica. Em 1836 (segundo Félix José da Costa em História da Ilha Graciosa), a Graciosa produziu 6.000 pipas de vinho. Em 1938, a área dedicada à cultura da vinha era o correspondente a cerca de um terço da superfície cultivada, ocupando o Verdelho uma significativa faixa.
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